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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tributo a Amelie Boudet


  Maria Inês Machado
(Texto publicado no Fraternity Spiritist  Society -London- http://www.fraternitygroup.com)

A historia de vida dos homens que revolucionaram o pensamento humano é permeada de valorosas mulheres, as quais foram dedicadas e fieis colaboradoras dos seus esposos, contribuindo enormemente para o cumprimento de suas missões.
Elas são silenciosas, ajudando-os sem alarde, porém, com firmeza, coragem e perseverança. O amor ao bem repousa em seus corações, portanto, não se sentem ofuscadas pelo brilho dos seus companheiros, pois compreendem a dimensão do trabalho que eles  realizam em prol da humanidade.
Sobre esta questão vale a pena lembrarmos o pensamento de Samuel Smiles: “Os supremos atos da mulher geralmente permanecem ignorados, não saem à luz da admiração do mundo, porque são feitos na vida privada, longe dos olhos do público, pelo único amor do bem.”
Mulheres notáveis, mulheres que marcaram a história, mulheres que deixaram rastros de luz em suas caminhadas, são tantas, e entre elas, vamos encontrar a suave Amelie Gabrielle Boudet, esposa abnegada, amiga e companheira que caminhou ao lado do insigne codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, transformando o deserto da incompreensão, da injuria, da inveja e de toda a adversidade oriunda dos inimigos gratuitos, num Oasis de ternura e de amor.
Este grande homem, portador de uma missão inconfundível que marcaria uma nova era para a humanidade, não poderia ficar a mercê do acaso, necessário foi, portanto, que junto a ele estivesse um espírito de luz, um anjo de sabedoria, para lhe impulsionar em momentos decisivos, para abrir as comportas do entendimento sobre fatos relevantes da doutrina que o esperava para ser codificada.
A sua presença foi marcada por fatos relevantes e após a morte de Allan Kardec, confiante na missão do seu esposo, empreendeu todos os recursos para manter viva a chama do Espiritismo. Ela representou o braço forte, ao lado de notáveis homens que deram prosseguimento à grande obra do Codificador.Para tanto, empreendeu recursos para a fundação de uma sociedade destinada à divulgação da Doutrina Espírita, investiu na compra de propriedades que pudessem remediar futuras eventualidades, foi, portanto, uma mulher de “cérebro luminoso”, de coração pacificador e de mãos operantes.
Desânimo, tristeza, repouso prolongado não constavam na sua trajetória edificante. Apesar de poder escolher a aposentadoria tão desejada pela maioria dos mortais, Amelie Boudet fez a opção pelo trabalho contínuo, reunindo forças, oriundas do “Bem em Movimento” que fortalece as almas nobres destinadas a espalmar luz na Terra.
Amelie Boudet, este nome deve ficar guardado na mente dos espíritas, pois todos devem a esta grande mulher um profundo respeito por tudo que ela representou na vida do missionário da luz, o qual trouxe no século XIX a maior revolução de idéias que o mundo se apropriou, sinalizando uma nova perspectiva de vida para o homem, o qual de posse dos Conhecimentos Espíritas pode vislumbrar caminhos iluminadores e condutores da felicidade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Natal de Jesus

                                          
                              Maria Inês  Machado
 Dezembro, anos 50, cidade do interior do Estado do Nordeste, as ruas se preparavam para a passagem da procissão, era a modalidade da comemoração do Natal de Jesus, apresentada pela religião predominante na pequena cidade  
O Jesus de todos: pobres, ricos, amarelos, negros, brancos. Afirmara: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida para Deus, ninguém chegará ao Pai, senão por mim”. Ele  não prescreveu  que vinha para esta ou aquela religião, nos ensinou a amar como ele nos tinha amado, exemplificou o perdão das ofensas em todos os momentos da sua passagem na Terra, culminando com a sua crucificação quando afirmara: “ Pai perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”.
O homem, ao longo dos séculos na luta desenfreada para a conquista do poder, utiliza de recursos que aprisiona o semelhante e a si mesmo. Jesus que não escolheu palácios para nascer, foi eleito pela vaidade humana como um rei de coisas que se conquista a preço de ferro e fogo. Os seus ensinamentos foram distorcidos na lei do vale tudo, desde que fosse mantido o trono do orgulho, o cetro da prepotência e a coroa  do poder temporal.
Porém, Jesus não desiste de nós, Ele, o Sublime Pastor das almas, aguarda que o coloquemos no âmago do nosso ser, vivenciando os seus ensinamentos, é, portanto, o guia e modelo da humanidade.
O Natal de Jesus é comemorado por todos os cristãos, as cidades se enfeitam de luzes, os presépios, as árvores de Natal são colocados em lugares estratégicos, relembrando o seu nascimento, cerimônias, rituais, inúmeras são as formas das manifestações comemorativas.
E aquela pequena cidade se preparou para homenagear Jesus. Esta homenagem era recheada de muitas atividades e, entre elas, a procissão. Foi, portanto, neste cenário, ou seja, em plena comemoração do Natal de Jesus que vamos reconhecer o quanto o homem e a mulher têm que caminhar para aprender o “Amai- vos uns aos outros como eu vos amei.”
A procissão seguia o seu percurso, hinos entoados pela multidão presente acompanhados pela bandinha local. Na linha de frente, marchavam os “coronéis” da cidade segurando o andor, logo atrás, formava-se uma fila de mulheres “ piedosas”, bem o retrato das freqüentadoras aos domingos e em dias especiais das cerimônias, dos ritos oferecidos pela igreja local.
Não muito distante do local da procissão, uma menina de apenas treze anos, observava a multidão que passava cantando os hinos em louvor a Jesus. A roupa rota, os cabelos em desalinho, a pequena continuava meio que assustada a um canto, observando o movimento da procissão. Movida pelo desejo de adquirir algo que pudesse levar para casa, aproxima-se lentamente da procissão. Ela não entende aqueles cantos, apenas vislumbra as mulheres, os homens bem vestidos e as crianças como ela, envoltas em mantos de cetim com coroas floridas na cabeça e asas sobrepostas nas costas, representando os anjos do Céu. Porém, movida pela necessidade, o ímpeto de conseguir algo é maior que o medo que a envolve, e ela se desloca do local em que está e aumentando o passo, busca a primeira ala da procissão, na qual se encontravam as mulheres, ditas virtuosas da cidade, que freqüentam todas as cerimônias religiosas do lugarejo.
A pequena, criando coragem, levanta a mão e pede a uma senhora bem vestida, cabelos presos em coque (bem do modelo da época). A senhora olha para criança e nada responde, continua o seu canto e a repetir a jaculatórias próprias da cerimônia A menina, um tanto quanto assustada, não desiste e volta a implorar, desta vez não apenas com a mão estendida, mas verbaliza: senhora uma esmola por amor de Deus. A senhora para, retira algumas moedas de uma pequena bolsa que carregava, e joga ao chão sem olhar para a garota. Esta, por sua vez, recolhe as moedas e coloca dentro de uma pequena lata que tinha nas mãos e prossegue.
Continuando a sua peregrinação, mais adiante chega próximo a um dos cavalheiros e estende a mão, este a olha e prossegue sem se dar conta do olhar da criança que o segue insistentemente, ele, por sua vez, não dando importância a suplica da infantil, continua a passos moderados com as suas botinas de couro. Mas, o desejo de levar algo para casa é maior e a criança renova o pedido, agora, também verbalizando: senhor, uma esmola pelo amor de Deus, o homem, de porte altivo, segue adiante sem se dar conta do pedido da criança. Ela não desiste e continua seguindo a procissão, de repente, como por encanto, surge um jovem, aproxima-se e pergunta o seu nome. O homem, ao perceber que o jovem iniciara o dialogo com a pedinte, o repreende: meu filho, não vês que estais numa procissão e como tal, devemos ter o devido respeito as cerimônias religiosa. É o Natal de Jesus que estamos comemorando. Como ousas filho, parar o cântico para falar com uma mendiga. O filho respeitoso, não desejando contrariar o pai, continua a marcha da procissão. O pai, por sua vez, com o semblante contrariado segue sem murmurar, porém, contido no seu orgulho, espera a oportunidade para inquirir o filho do acontecimento presente.
A cena tocara profundamente o jovem, aquela menina tinha quase a sua idade, mil interrogações surgiram na sua mente e burlando momentaneamente a vigilância do pai, diminui o passo e volta a falar com a garota., ao ouvir a  sua história, ele  oferece  não apenas as moedas que saciam a dor física da fome, mas o aconchego, o carinho das palavras doces, que curam as dores da alma. A pequena, que tinha sido ignorada pelos demais “fieis”, deixa-se irradiar pela alegria e sai cantarolando, buscando o seu lar. Antes, passa numa pequena venda e compra com o dinheiro que recebeu o alimento que será repartido com a sua mãe.
Chega a uma casebre afastado do centro da pequena cidade. A mãe, que adoecera, estava deitada num monte de palhas que espalhara no solo, à guisa de colchão. Era uma nobre senhora, educara a filha pelo exemplo da dignidade e mesmo doente, ao ver o que a filha havia conseguido com a mendicância, explica-lhe: minha filha, o trabalho dignifica a pessoa, seja ele qual for, não devemos abandoná-lo, portanto, esta situação de pedinte é provisória, logo que eu me recuperar, voltarei para as minhas atividades costumeiras, tornarei a lavagem de roupas que me fazem adquirir o pão  de cada dia.
E prossegue na sua exortação: Jesus não nos ensinou a mendicância, se assim o fizemos, foi num momento extremo, porém, não iremos continuar a pedir por muito tempo. Temos como adquirir o alimento para o nosso corpo, através do trabalho. A criança concordou com a sua mãe, e os seus olhinhos se iluminaram de esperança. E as duas juntas naquela noite de Natal, de mãos entrelaçadas, rogaram a Jesus a benção da saúde.
Após este momento mágico, a pequena relata para a sua mãe o ocorrido: a procissão, as pessoas que a acompanhavam, a fala do jovem que a atendeu após ser humilhada pelos adultos. A nobre senhora permanece por alguns segundos em silêncio, depois, dirige-se a filha e solicita que ela vá até o pequeno quintal da casa e  recolha no pequeno canteiro uma flor. A pequena, afasta-se do leito de sua mãe, e trás nas mãos uma singela  flor e, olhando para a mãe, a entrega.
A mulher coloca a flor nas mãos da filha  e diz: minha filha, essa singela flor, apesar da aridez do terreno,  se desenvolveu e o seu perfume envolve a tantos quantos dela se aproximam. Assim também são as pessoas, encontrarás no teu caminho criaturas como este jovem, que por onde passam exalam o perfume da humildade e da fraternidade, porém, encontrarás também outras que ostentam o nome de Deus nos lábios, mas têm o coração árido como o deserto.
Já apresentas os primeiros sinais de transformação da fase infantil para a juventude. És bela e despertarás atenção. Na maioria das vezes, a nossa condição de pobreza, aguça os sentidos dos perversos que desejam conquistar a nossa honra com galanteios recheados de promessas vis. Estes farão alusão a tua beleza, aguçando a vaidade natural da condição humana, porém, lembra-te que a beleza de uma mulher não se encontra nas ricas vestimentas que ostenta, mas na dignidade que a livra da perversão, portanto, não negues a Jesus, entregando-te nas mãos enlameadas dos covardes e impudicos.
                Tudo farão para te conquistar, porém, as maiores conquistas que podes almejar são os tesouros do céu. Assim como essa flor que não nasceu num jardim de um palacete, mas permanece com a sua brancura e perfume, tu também poderás manter a brancura da tua dignidade, oferecendo o teu amor, aquele que te compreender o sentimento.
Não te deixes vencer pelas propostas dos incautos que te cercarão, eles serão como o veneno injetado, que, após contaminar o sangue circulante da vida, te levará a morte da vergonha e da penúria.
                Observa o firmamento nesta noite de Natal e veja o quanto o céu esta iluminado.
Filha, não temos a mesa farta, iluminada pelos candelabros de cristais, porém, temos a luz do luar, o brilho das estrelas, que podemos contemplar, com a consciência liberta, enquanto que  outros, mesmo no luxo dos banquetes, guardam no intimo a escuridão da consciência culpada.
O Natal de Jesus pode ser comemorado em todos os momentos da tua existência com alegria, desde que possas vislumbrar esta mesma luminosidade, a das estrelas e a do luar dentro do teu ser.
Não import5a onde estejas, não é o formato da moradia que irá delinear a tua felicidade, mas a conquista de Jesus no íntimo do teu coração. Deixa, portanto, filha minha, Jesus se abrigar no teu coração juvenil, lembrando que se muito erramos nas existências passadas, a hora, agora, é de renovação e isto só é possível com a instalação da manjedoura de Jesus  na tua  consciência. Ao fazeres esta opção, os animais peçonhentos da futilidade e do prazer efêmero serão substituídos pelas ovelhas mansas da harmonia, da fé e da resignação, os anjos cantarão louvores com as harpas da pureza do teu coração, os reis magos ofertarão a mirra, o incenso e o ouro da paz.
Reverencia, portanto, filha de minha alma, Jesus em todos os dias, não esquecendo jamais que Ele veio a Terra e deixou todas as diretrizes para realmente chegarmos aos céus, com a túnica nupcial conquistada entre lutas e renúncias.
A criança olhou para a mãe e, com a voz embargada pela emoção, sentenciou: minha mãe, ainda que eu ande pelos vales da sombra e da morte, representados pela dureza do coração humano, não temerei mal algum, porque o teu amor foi e sempre será o meu cajado que me conduzirão pelas águas mansas dos rios da fé e da perseverança no bem. O Natal de Jesus, minha mãe, jamais irei comemorar com a procissão da indiferença, porque me ensinaste a amá-lo em espírito e verdade, e as estrelas do céu me anunciarão a tua presença, guiando os meus passos  nas estradas da vida.
Neste momento, estes dois anjos, reencarnados na Terra em processo de redenção, se entreolharam e as estrelas no firmamento pareciam sorrir iluminando aquele local pobre de recursos materiais, mas ricos em dignidade e amor.